quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ROTEIRO - "A FINAL" LIBERTADORES 04/07/2012

Na faculdade, em uma das atividades o professor pediu para escrever um pequeno roteiro, um curta com o tema : "O dia mais inesquecivel da sua vida" . Bem, vejam só o que escrevi...


Eterno







“ A FINAL”
Raphael Nunes


FADE IN
CENA 1 – EXT. – FRENTE A ESTAÇÃO DA LUZ - NOITE
Pessoas com os rostos pintados em preto e branco, carros parados muitas buzinas, cornetas e foguetes dão brilho a noite. Gritos e bandeiras tremulando. Ao fundo em coro as pessoas cantam.
RAPHAEL, cerca de 20 anos, moreno, alto, usando bermuda, boné preto e branco virado para trás e vestindo a camisa dos Gaviões da Fiel. Na cintura está amarrada uma camisa de manga cumprida do Corinthians.
RAPHAEL caminha pela rua e começa cruzar com pessoas e carros.Ouve o som de um radio que fala direto do Pacaembu. O movimento das ruas é cada vez maior. Toda a cidade vive o clima do jogo. Ele está caminhando em direção a quadra dos Gaviões da Fiel, lugar onde se reuni a maior torcida organizada do Corinthians.

EXT. – PROXIMO A QUADRA DOS GAVIÕES DA FIEL – NOITE
De longe RAPHAEL já ouve o som que vem da quadra. Pessoas cantando ao som da bateria já o deixa arrepiado.
Avista a frente uma multidão, todos com camisas pretas e brancas, rostos pitados como se fossem para uma guerra, cornetas, bandeiras nas mãos, clima de final.
 Assim como as pessoas se espremem para entra no trem no horário de pico as pessoas lutavam para entrar na quadra. Disputam um espaço pra ver o jogo, muitos fazendo festa e outros preocupados  tensos, já roendo as unhas antes do jogo começar.

INT. – QUADRA GAVIÕES DA FIEL – NOITE
Musica ambiente ecoava ao som da bateria
Como se estivesse lutando contra as ondas do mar RAPHAEL luta contra a multidão em direção ao som da bateria, que só aumenta cada vez que ele se aproxima. Pessoas entram e saem, corpos se chocam entrando em conflitos de direção.
Gritos como Vai Corinthians! são ouvidos repetidamente ao fundo.
Com muito esforço RAPHAEL chega até a bateria. Saca sua câmera digital e começa filmar e tirar fotos da multidão que cantava loucamente sem parar. Faixas com letras grandes em preto e branco com nome de cidades e estados são penduradas por todos os cantos da quadra, enfeitando o local.
A quadra está super cheia,a bateria começa ser espremida pela multidão. Líder responsável bateria fica enfurecido...

LÍDER
 Vamos se afasta um pouco ae família. 
Grita ele olhando para a multidão
LÍDER
 Família, faz um cordão de isolamento humano em volta da bateria e empurra o povo para trás, precisamos de espaço pra continuar a festa.

Para RAPHAEL aquilo foi uma ordem do capitão do exercito. Ele guardou a câmera no bolso e prendeu seus braços com os dos outros corinthianos. Mesmo magrelo e fraco ele tenta segurar a multidão com todas as forças para não atrapalhar a turma da bateria.
Grito ecoava na quadra
MULTIDÃO
Vamos, vamos Corinthians,está noite, teremos que ganhar...

RAPHAEL se solta e começa a cantar loucamente, a puxar gritos de guerra e impedindo a multidão de avançar ao mesmo tempo. Bandeiras começam a ser tremuladas, buzinas e fogos se misturam com o som ambiente.
O telão é ligado, o jogo já está para começar. Adrenalina do publico aumenta. Algumas pessoas já ficam apreensivas e outras continuam cantando.
Junto com a multidão RAPHAEL vibra com a escalação do time,grita o nome de cada jogador como se eles estivessem ouvindo essa saudação em forma de vibração.
RAPHAEL sai do cordão de isolamento e volta seus olhos para o telão. Ele canta e pula ansioso, mas ao mesmo tempo nervoso com o começo do jogo. Pessoas de todas as classes sociais de todos os lugares do pais, te todas as idades gritam numa só voz pelo mesmo motivos, pela mesma razão pelo mesmo amor, Corinthians Paulista.

Com o passar do jogo o calor aumentava. Maioria das pessoas já estava sem camisa. RAPHAEL espremido na multidão não tem como fugir do calor. Sua boca está seca e camisa pingando de suor. Mas continua cantando forte, loucamente sem parar.
DIEGO, 25 anos, visualmente bêbado, sem camisa, segurando em um das mãos uma latinha de cerveja e na outra uma bolsa térmica. Ele canta e grita ao lado de RAPHAEL

DIEGO
 Quem quer gelo ai? 
Saca da bolsa térmica pedras de gelos e começa a jogar para o povo.
RAPHAEL
Manda um pedaço pra mim Fiel
DIEGO
Pega ai Fiel, é tudo nosso família.

RAPHAEL pega duas pedras de gelo, passa uma rosto e nos braços que estavam suados e exalando calor, depois coloca o outro gelo na boca e começa a mastiga-lo para tentar matar a sede, pois com o superlotamento da quadra RAPHAEL não tinha opção de sair para comprar água já que seu corpo estava espremido na multidão.
O gelo ajudou RAPHAEL a se manter firme pulando e cantando forte no calor infernal da quadra abafada.
O primeiro tempo termina 0x0. Mas adrenalina do povo está a mil. Bateria continua tocando. Os mais fortes se aglomeram em sua volta e ficam cantando. E resto da multidão tenta sair para se refrescar.
RAPHAEL volta a tirar fotos e a ouvir historias das pessoas mais velhas próximas a ele.
RAUL, cerca de 40 anos, uniforme de trabalho, mochila nas costas, com os olhos cheios de lagrimas começa a desabafar. Cinco estranhos param em sua volta.

RAUL
Larguei minha mulher grávida. Ela pode ter o bebe a qualquer momento, mas eu não consegui ficar longe disso. Amo esse time, essa torcida.
Lagrimas começam a rolar 
RAUL
Talvez ela não queira mais saber de mim depois disso, mas nada me importa agora, só quero ver o meu time ser campeão antes de morrer.

RAPHAEL
Por isso eu digo que isso tudo é mais que um caso de amor, é uma religião.

RAUL
Você disse tudo. Amo minha mulher, amo meu futuro filho, mas amo muito mais o Corinthians.

RAPHAEL
Nossa torcida não é chamada de Bando de Loucos a toa.

O segundo tempo já está pra começar. A multidão se aglomera novamente em frente ao telão. Tem corinthianos pendurados em tudo qualquer lugar, nos banheiros químicos  nos muros, na área VIP, todos arrumando um jeitinho para caber dentro da quadra para ver o Corinthians. Todos estão confiantes que hoje a vitoria viria.
Ao som da bateria que continua sem parar e do povo que cantava loucamente, RAPHAEL segurou com uma das mãos o escapulário do Corinthians que ele tem no pescoço e fez uma prece antes do reinicio do jogo.
RAPHAEL
Meu São Jorge padroeiro, abençoe esse jogadores. Faça com que eles consigam essa vitoria. Não por mim, mas por esse povo sofrido que larga tudo e todos para ir num jogo. Que gasta o dinheiro do pão com ingressos. Eu não me importo se o meu time perder ou ganhar, pois só de estar vivendo esse momento histórico me sinto honrado. Muitas pessoas passaram por essa vida e não viveram esse momento, não sentiram esse clima maravilhoso. Sinto-me um privilegiado por estar aqui. Só quero que o time ganhe para finalmente a Fiel tirar da garganta esse grito, essa dor que está presa a mais de 100 anos.

Começa o segundo tempo, e com palavras de otimismo e muita confiança a Fiel se benze e voltam a cantar com mais força. Outras pessoas já estavam roendo as unhas, pois era agora ou nunca. É como se a vida deles dependesse daqueles 11 jogadores.

Falta para o Corinthians, é uma boa chance. A torcida se anima aumentando o canto. Todos olhando atentamente o lance sem piscar. 
RAPHAEL
Vai Corinthians !!!!

NARRADOR
Falta pelo lado direito próximo ao bico da grande área em frente ao tobogã. ALEX ajeita a bola com carinho. Jogadores se posicionam na grande área, a bola será lançada.

MULTIDÃO
É Agora, Vamos Corinthians !

RAPHAEL
É agora São Jorge. É agora família. Vai Corinthians !

NARRADOR
O Juiz apita, ALEX lança a bola na grande área, JORGE HENRIQUE desvia de cabeça, a bola sobra pra DANILO que de calcanhar ajeita para EMERSON que fica sozinho de frente para o goleiro e chuta forte para o  GOOOOLLLLLLLL  ééééé do Corinthians.

Explosão na quadra, gritos, choros, buzinas, fogos tomam conta do local. Pessoas se ajoelham chorando e agradecem aos céus. RAPHAEL contido de tanta emoção não sabe se grita, se chora ou ri de emoção. Sai abraçando todo mundo como se fossem conhecidos, como si fosse alguém da família.
RAPHAEL
Ai senhor, ai ai, meu coração. Obrigado São Jorge. Obrigado Corinthians. Já era, acabou. É tudo nosso família.

A festa só aumentou. Emocionados com o gol a Fiel cantava chorando, tirando forças sobrenaturais para ficar de pé naquele calor infernal e cantando.
Minutos depois sai o segundo gol do Corinthians. Gritos e mais gritos. Abraços misturados com suor e lagrimas. Muito choro e emoção. Pessoas caem no chão passando mal e outras agradecendo aos céus. As pessoas mais velhas são as que mais choram. Bandeiras escritas “ Eu já sabia” e “ É Campeão “ já apareciam em meio a multidão.
RAPHAEL tenta registrar tudo, sabe que aquele momento é unico, é histórico e marcante, mas está muito emocionado, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Só consegue gritar.

RAPHAEL
É campeãoooo!!. É campeãooo!!. É campeãooo!!. Calamos a ultima boca.

Sinalizadores começam a dar cor a quadra. A fumaça já toma conta do local e já não se vê mais o telão. Nada mais importa. Como se tivessem ganhado uma guerra, uma batalha que durou mais de 100 anos finalmente chega ao fim. A multidão cantava aliviada, estavam libertados. Tiram um aperto do peito e um grito que estava engasgado na garganta.

MULTIDÃO
É campeãoooo!!!. É campeãoooo!!!. É campeãooo!!!
Fim de jogo. O chão da quadra treme, a estrutura balançava. Camisas, latinhas, bonés, sapatos tudo sendo jogado para o alto. Pais e filhos, amigos, estranhos se abraçam com força. RAPHAEL pega sua bandeira e vai ate o palco principal da quadra. Ajoelha-se na frente de todo aquele povo e estende sua bandeira.

RAPHAEL
Obrigado São Jorge por me deixar viver esse momento lindo, muito obrigado.
Emocionado e com os olhos cheios de lagrimas.
TRASIÇÃO

EXT. RUA EM FRENTE A QUADRA – NOITE
O transito parado. Só havia corinthianos nas ruas. Fogos rasgam o céu de São Paulo. Os Mais animados sobem nos tetos dos carros e começam a pular e cantar loucamente sem parar. Pessoas por todos os cantos conversando com os conhecidos pelos celulares.
RAPHAEL senta no muro em frente a quadra e fica olhando tudo aquilo. Olhando e admirando a multidão. Tira sua câmera do bolso e registra tudo. Ninguém para de pular e cantar. Ele fica sentado lá lendo as mensagens que chegam em seu celular, mas não responde ninguém, fica simplesmente parado curtindo, olhando para o céus com os olhos cheio de lagrimas e com um sorriso estampado de orelha a orelha. Ele sabe que dificilmente vai sentir tudo que sentiu nessa noite e por mais que ele tente falar, descrever, narrar o que aconteceu ali, ninguém vai conseguir entender o que realmente ele viveu. Só quem estava lá saberá.
FADE OUT
FIM